Assim como os adolescentes rumam para a universidade em fevereiro e em março, o pessoal que já passou dos 60 deixa a poltrona de casa para se acomodar nos bancos escolares. São as turmas das universidades para a terceira idade, que reúnem o pessoal que já se aposentou, mas que não quer parar de aprender. "É um curso de extensão cultural, que não exige diplomas ou certificações", explica o coordenador do curso para a terceira idade do Centro Universitário Sant'Anna, Antônio Jordão Netto.
Foto: Divulgação Terra |
Ao preencher as tardes dos alunos com disciplinas como português, geografia, música, cinema, informática e atualidades, a ideia não é formar profissionais, e sim estimular quem já passou da fase de se preocupar com mercado de trabalho. Entre as universidades para terceira idade, a quantidade de horas/aula, as disciplinas e a idade mínima para participar do curso mudam de acordo com a instituição.
Porém, todas têm em comum o foco na qualidade de vida. "Aqui é proibido dizer 'no meu tempo'. O passado é importante, mas o meu tempo é agora. A sua vida atual tem que se basear na atualidade", diz Jordão Netto.
Para o coordenador da UniSant'Anna, essa é uma nova safra de idosos, que viu a educação como um caminho possível e interessante nessa fase da vida. "Viram que poderiam se reciclar e ali encontrar novas motivações de vida. São pessoas que já estão com os filhos encaminhados e têm a necessidade de sair daquela rotina do trabalho doméstico e de cuidar dos netos", conta.
A coordenadora da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade de Guarulhos, Líslei Freitas, completa: "Geralmente são pessoas que já perderam os seus companheiros, mas nem sempre. É gente que quer sair de casa, procurar conhecimento. Não é só lazer, eles querem mesmo aprender."
Marly Rodrigues, 64 anos, faz parte dessa turma que resolveu deixar o tricô para as horas vagas. Há 12 anos, foi com uma amiga conhecer o curso da UniSant'Anna e não saiu mais de lá. Depois de criar as duas filhas, ficou com muito tempo vago. "Fui encontrar uma atividade para preencher esse vazio", relembra. E o esforço valeu a pena. "Tenho um grupo de amigos que conheci ali e nos vemos inclusive fora da faculdade", diz. A empolgação foi tanta que hoje Marly ajuda a coordenação do curso na organização dos eventos da escola. "Faz bem pra mim, porque eu faço bem para outras pessoas", resume a aluna dedicada.
Como Marly, outros alunos consideram o curso um divisor de águas na vida. "Antes de entrar, os próprios alunos acham que pessoas com mais idade têm que ficar em casa, quietinhas. Hoje a reclamação deles é que tem muitas férias, porque queriam ter aula sempre", ri Jordão Netto. Muitos estudantes até deixaram de ter problemas como pressão alta, ansiedade e depressão. "Não é só a saúde mental que melhora, a física também. Eles dizem que isso aqui é um renascer, e as famílias encaram a iniciativa de maneira muito positiva".
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